Confira com exclusividade uma das crônicas da nova obra

Edição: Vitor Diel sobre release da assessoria
Arte: Giovani Urio sobre divulgação

O mais recente livro de Susana Vernieri já está no prelo. É A montanha e o abismo, reunião de crônicas que deverá ser lançada um junho de 2023. O projeto gráfico tem assinatura de Tatiana Sperhacke, a mesma criadora de Horizonte Monótono, obra que foi finalista dos prêmios Minuano, da Academia Rio-grandense de Letras e do Açorianos, em 2022, na categoria crônica. O lançamento é o 23º da autora porto-alegrense.

Abaixo, publicamos com exclusividade um dos textos que integram a publicação:

Parábola da morte

Vinha um homem em seu caminho de volta do trabalho quando, em uma encruzilhada, encontrou A Morte. Vestida de preto e com sua foice, foi logo dizendo:
— Para onde vais?
— Para casa.
— Pois eu vim te buscar, para caminharmos juntos.
— Pois não, vamos até minha casa que lhe faço um café.
— Vim te buscar aqui, nesta encruzilhada.
— Eu vou morrer?
— Sim, eu vou te levar.
— Eu sei que ninguém engana a morte, nem vou tentar. Pode me levar. Mas só uma pergunta: a senhora pagou o pedágio?
— Que pedágio?
— O que libera os viajantes para poder fazer este caminho.
— Não, não paguei.
— A senhora não está acima da lei. Teria que ter pago o pedágio para querer me levar nesta estrada.
— Ora, não amole. Eu sou A MORTE. Faço o que bem quero, na hora em que quero.
— Sem o ticket do pedágio eu não vou com a senhora.
— Então vou te levar à força.
— Vai ser presa.
— Quero ver quem me prende.
— Está bem, então vamos.

A Morte levou o homem com ela. Passados alguns dias, recebeu no inferno uma multa. Vinha da parte de Caronte, o barqueiro que leva as almas do mundo dos vivos para o mundo dos mortos. Se a Morte não a pagasse, ela própria mergulharia no Estige, o rio que separa os dois mundos. A multa era devolver ao mundo dos vivos o homem que havia levado sem pagar o pedágio. Caronte, e não a Morte, era o dono do caminho.

Sobre a autora
Susana Vernieri é autora de mais de vinte livros entre os gêneros crítica literária, poesia, novela, romance, infantojuvenil, infantil e conto. Recebeu o Prêmio Açorianos, em 2009, na categoria conto, com o livro As grades do céu. Foi finalista do prêmio Minuano, também na categoria conto, com a obra Letra morta, em 2020 e, em 2021, ganhou o prêmio Apolinário Porto Alegre da Academia Rio-grandense de Letras com o livro de crônicas O mapa da república.