As Rimas Internas

Sobrinho de Caio Fernando Abreu, Luis Felipe Abreu prepara lançamento de romance que presta homenagem aos poetas malditos da Geração Mimeógrafo do Rio de Janeiro

Edição: Vitor Diel sobre texto da assessoria
Arte: Giovani Urio sobre reprodução

Uma homenagem numa feira literária internacional, uma proposta para biografar uma talentosa e arredia poeta da década de 1980, que morreu de maneira trágica e misteriosa. É assim que começa a aventura literária-existencial de Luiza, narradora-personagem que nos guia pelas páginas de As Rimas Internas, romance do porto-alegrense Luis Felipe Abreu e que será lançado oficialmente no dia 22 de março, na Livraria Clareira (R. Henrique Dias, 111 – Bom Fim, Porto Alegre/RS).

Incumbida de biografar Flora L., uma mistura ficcional de figuras como Ana Cristina César, Sylvia Plath e Alejandra Pizarnik, a jornalista Luiza acaba se perdendo num labirinto cheio de referências à cena literária em que viveu a poeta carioca e também Caio Fernando Abreu, de quem Luis Felipe Abreu, o autor do livro, é sobrinho.

“Toda minha formação intelectual se deu um pouco à sombra da figura do meu tio, embora eu tenho tido pouco contato com ele em vida”, explica o autor Luis Felipe Abreu, que nasceu em Porto Alegre, no início da década de 90. “Mas li os livros da sua biblioteca, ouvia histórias, fui levado a lê-lo bem jovem, e acabei assim buscando ler também aqueles que orbitavam ao redor dos causos envolvendo ele: Ana C., claro, mas também João Gilberto Noll, Hilda Hilst, Sérgio Sant’anna, Márcia Denser etc.”.

De acordo com o crítico e pesquisador Ítalo Moriconi, um dos elementos de destaque de As Rimas Internas é “a maneira cirúrgica e detalhista com que (o romance) recompõe a experiência da pesquisa para uma biografia de alguém icônico, de recente fim trágico ou misterioso na república das letras. Nessa recomposição, o texto condensa todo um repertório de compreensão, que vai da literatura tout court a conceitos da crítica literária disfarçados sob a capa da ficção”.

“Minha proposta foi tentar uma prosa que vai crescendo no seu aspecto de delírio. Ficando cada vez mais afetada e fabril, para gerar no leitor a impressão da ‘contaminação’ passada pela narradora, que mergulha na figura de Flora e passa a confundir a realidade com as memórias e impressões da poeta”, explica Abreu.

Confira um trecho de As Rimas Internas:

“Desculpe a pressa”, sorriu O Editor, me oferecendo a mão e um sorriso franco. Por trás dos óculos de aros verme- lhos, o rosto vincado e bronzeado era gentil, mas assertivo. O mesmos tons se carregavam para a sua voz: “Tive essa ideia ontem à noite e quase nem consegui dormir. Precisava resolver isso logo”.

O Editor sentou-se por trás de sua escrivaninha, indicando com um gesto para que eu e Martina fizéssemos o mesmo. A sala era abarrotada por livros, certificados de prêmios, troféus e fotografias, um acervo das conquistas da editora nas últimas décadas. Eu sabia que aquela não era uma ocasião normal: já fazia trabalhos para a editora há mais de quatro anos, mas nunca havia visto O Editor. Toda essa cena parecia um da- queles raros momentos em que o pano do palco se entreabre e podemos ver os mecanismos internos do teatro.

(p. 14)

Sobre o autor
Luis Felipe Abreu nasceu em Porto Alegre, em 1993. É escritor, professor e pesquisador. Foi professor na Escola de Comunicação da UFRJ. É pesquisador de pós-doutorado no Grupo de Pesquisa Poesia Brasileira Contemporânea (UFRJ). As Rimas Internas é seu primeiro romance.

As Rimas Internas
Luis Felipe Abreu
272 p.
R$ 54,90
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