Colação de grau além do protocolo

Livro recupera episódios peculiares ocorridos, durante 17 anos, nas formaturas da Faculdade de Medicina da UFRGS

Edição: Vitor Diel com texto da assessoria
Arte: Giovani Urio sobre reprodução

Dezenas de médicos e médicas que hoje ocupam posição de destaque na assistência, ensino, pesquisa e gestão em saúde tiveram, de 1974 a 1990, formaturas anticonvencionais, muito diferentes das cerimônias solenes que se conhece hoje. O fato está relacionado ao contexto da época, pela implantação da chamada reforma universitária durante a ditadura militar e pelo início do processo de redemocratização do país.

Nas universidades, as formaturas são um rito de passagem, marcando a mudança de status de quem recebe seu diploma. Para cumprirem essa função, seguem um protocolo que estabelece elementos simbólicos obrigatórios. Por exemplo: o uso da beca e demais vestes talares, distintivas de posição e poder; as representações de diferentes papéis, por meio de paraninfos, homenageados, autoridades acadêmicas e oradores; e, ponto alto das cerimônias, o momento individual da colação de grau, quando a posse do canudo, em meio a falas rituais, converte estudantes em profissionais.

Nesse universo de simbolismos, a ausência ou modificação de qualquer elemento introduziria um novo significado, a sinalizar que algo está fora de lugar. Pois assim foi a formatura da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1974. Teve beca, teve canudo… mas não paraninfo e homenageados. Foi a forma encontrada por formandos e formandas para protestar contra as condições de ensino, prejudicadas em decorrência da implantação, pelo regime militar, da chamada reforma universitária.

O episódio não foi o único. A turma de 1975 escolheu como paraninfo o professor Sarmento Leite, então falecido há 40 anos. Os homenageados foram Osvaldo Cruz, Vital Brasil, Carlos Chagas, Adolfo Lutz e Noel Nutel, todos já mortos. Em outros anos, formandos escolheram, a título de paraninfo, o prédio da antiga sede da faculdade e instituições, como a Santa Casa e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Cadeiras vazias na formatura de 1975, que homenageou médicos já falecidos. Acervo pessoal de Álvaro Roberto Crespo Merlo

Estas são algumas das histórias contadas no livro Beca, Canudo e Protesto: contestação e irreverência nas formaturas da Faculdade de Medicina da UFRGS de 1974 a 1990, de autoria da jornalista Elisa Kopplin Ferraretto e do médico e professor Elvino Barros. A publicação contou com o apoio cultural da Associação Médica do RS (Amrigs), Sindicato Médico do RS (Simers), Unicred Porto Alegre e Fundação Médica do RS (FundMed).

Escrito na forma de uma reportagem, com base em ampla pesquisa documental e em mais de cem entrevistas, o livro traz imagens para ilustrar a narrativa, além de QR codes que dão acesso a vídeos de quatro formaturas da segunda metade da década de 1980 e a um áudio com parte da solenidade de 1975, raro registro de uma cerimônia da época.

O lançamento acontece no dia 5 de setembro, quinta-feira, das 10h30 às 12h, no Anfiteatro Carlos César de Albuquerque – Hospital de Clínicas de Porto Alegre (Rua Ramiro Barcelos, 2350 – Porto Alegre/RS). Além da sessão de autógrafos haverá um encontro geral das ATMs de 1974 a 1990, será um momento para compartilhar memórias e histórias. Estão confirmadas as presenças de Adamastor Pereira, Valter Duro Garcia, Clotilde Druck Garcia, Gilberto Schwartsmann e Júlio Conte, entre outros médicos e médicas cujos relatos integram o livro

Sobre os autores
Elisa Kopplin Ferraretto é jornalista, atua na área de Comunicação em Saúde. É autora de Pery e Estelita na ribalta do espaço, que resgata a história de Pery Borges e Estelita Bell, pioneiros do radioteatro. Com o jornalista e professor Luiz Artur Ferraretto, escreveu Assessoria de imprensa: teoria e prática e Técnica de redação radiofônica. Em 2021, recebeu, da Associação Riograndense de Imprensa, o Troféu Antônio Gonzalez de Contribuição Especial à Comunicação.

Elvino Barros é nefrologista, atua no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É autor, coautor ou organizador de livros técnicos de Medicina, além de uma obra de resgate histórico de sua especialidade, Fragmentos da história da Nefrologia gaúcha.

Beca, canudo e protesto – contestação e irreverência nas formaturas da Faculdade de Medicina da UFRGS de 1974 a 1990
Elisa Kopplin Ferraretto e Elvino Barros
352 p.
R$ 120
Libretos Editora

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