Além de uma vertigem

Com escrita ágil e apegada à oralidade, ‘Eterna fantasia’, de Danichi Hausen Mizoguchi, analisa as contradições e a violência política do Brasil nos anos 2010

Edição: Vitor Diel
Foto: André Cherri

O colapso de ideais e a reinvenção afetiva em um Brasil dilacerado guiam o segundo romance de Danichi Hausen Mizoguchi, Eterna fantasia. Depois do premiado Cinco ou seis dias — vencedor do Prêmio Ufes e finalista do Prêmio Rio de Literatura —, o autor gaúcho radicado no Rio retorna à ficção com uma obra que mistura desencanto político, pulsão de vida e o desejo como resistência. E traz um olhar afiado sobre o Brasil contemporâneo, o fim de uma era e o ímpeto do desejo como rota de fuga de um mundo que desmorona.

Entre esquinas, bares, restaurantes e rolés pela geografia urbana, Danichi retrata as desilusões de uma geração diante do conturbado cenário político brasileiro dos anos 2010, marcado por rupturas, fake news, polarização ideológica, lacrações, cancelamentos, pensamentos binários e a ascensão do conservadorismo.

A guinada à direita pós-manifestações de 2013 é o ponto de inflexão; a seguir vieram uma série de desdobramentos determinantes para a história recente do país — Lava Jato, processo de impeachment, destituição de Dilma Rousseff, assassinato de Marielle, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro. Os eventos se desenrolam como no mito de Pandora, cujas consequências transformam a todos.

Diante do cenário disruptivo, o autor desvia a lupa da narrativa para investigar os embates e contradições do campo progressista do país e sua própria implosão, que avança com a internalização do discurso e do método que deveriam por princípio combater. Com seus ideais à prova, a obra questiona “como continuar vivendo depois que os sonhos desabam”, como destaca Manuela D’Ávila no texto de orelha do livro.

É a partir do impasse coletivo, marcado por rasteiras e fogo amigo, com verniz de acolhimento, que a micropolítica do corpo assume um papel central na trama: um elemento revolucionário e sublinhado na epígrafe de Silvina Ocampo: “Escrevo para não esquecer o que é mais importante no mundo: a amizade e o amor.”

“A história busca cartografar uma espécie de política afetiva entristecida que se alastrou e se tornou majoritária em nosso país em meados da década passada. Todavia, quer acompanhar também as possibilidades de enfrentamento à tristeza e ao assombro, e é um pouco nesse vetor duplo que a trama das personagens se constrói, sem a intenção de resolver ou sintetizar a contradição, mas, mais precisamente, querendo habitá-la”, aponta o autor.

Eterna fantasia ganha eventos de lançamento com a presença do autor em quatro cidades brasileiras. No sábado, 19 de julho, às 16h, na Livraria Paralelo 30 (R. Vieira de Castro, 48 – Farroupilha), em Porto Alegre. Dia 31, às 15h, na Casa Poéticas Negras da Flip em Paraty, RJ, em conversa com Sérgio Tavares e Hugo Paz sob o tema Brasil em crise: Por que a Democracia está em risco?. Dia 9 de agosto, às 13h, no Quilombo Ferreira Diniz na capital fluminense (R. Cândido Mendes, 320 – Glória), e no dia 30 de agosto, às 15h, em São Paulo, na Sol y Sombra (R. Santa Madalena, 250 – Bela Vista).

Sobre o autor
Danichi Hausen Mizoguchi é gaúcho de Porto Alegre. Mora no Rio de Janeiro desde 2005. É graduado em Psicologia pela UFRGS, mestre e doutor em Psicologia pela UFF, pós-doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ. É autor de livros acadêmicos premiados, além de ter artigos e ensaios publicados em diversos países. É compositor, entre outras canções, de Cartilagem, finalista do Festival de Música de Porto Alegre. Seu primeiro romance, Cinco ou seis dias, recebeu menção honrosa no prêmio da União Brasileira de Escritores, foi finalista do prêmio Rio de Literatura e vencedor do prêmio UFES. Eterna fantasia é seu segundo romance.

Eterna fantasia
Danichi Hausen Mizoguchi
224 p.
R$ 69,90
Dublinense
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