Escritor afro-indígena Andrés Rivero lança livro em Porto Alegre no dia 26 de outubro
Edição: Vitor Diel sobre texto da assessoria
Foto: Juliana Freitas/Divulgação
Mormasiento chega a Porto Alegre como um grito poético vindo da fronteira. Escrito por Andrés Rivero, poeta afro-indígena e artista de Minas de Corrales (Rivera – Uruguai), o livro atravessa as margens entre o Uruguai e o Brasil com a força de uma língua viva: o portuñol. O lançamento acontece no dia 26 de outubro, domingo, às 16h, na Livraria Macun (Rua Octávio Corrêa, n⁰ 67 – Cidade Baixa).
Os exemplares estão à venda na Livraria Macun e também podem ser adquiridos pelo Instagram do autor, @rivero.arte. O lançamento contará com sessão de autógrafos, roda de conversa e poesia — um encontro para sentir de perto a pulsação da fronteira.
A obra reúne versos e narrativas que emergem da oralidade e da experiência cotidiana nas periferias fronteiriças, revelando identidades historicamente silenciadas. Nos poemas de Rivero ecoam os tambores, os afetos, a memória coletiva e a resistência de um povo que constrói sua história na mistura de línguas, culturas e saberes ancestrais.
Na poesia, Andrés Rivero celebra o portuñol, sua linguagem formativa e a criatividade desta em unir dois idiomas. “Eu nasci em um lugar onde as pessoas falavam assim desde o ventre, desde o colinho da mãe. Eu escuto essa forma de falar nas cantigas, nas histórias dos meus avós”, recorda Rivero. “No meu bairro as pessoas falam assim, falam misturado, brincam com as palavras, vão passando do espanhol ao português e às vezes tem palavras que são inventadas”, complementa.

Além do espanhol e do português, Rivero busca palavras de origem africana, guarani e charrua para contar histórias de suas raízes afro-indígenas. “As matanças dos povos originários foram sistemáticas, então as pessoas aprenderam a viver no silêncio”, avalia o artista. “A minha mãe viu pessoas que foram escravizadas e a avó da minha mãe foi uma pessoa escravizada. Então, eu trato de perguntar, dentro e fora da minha família, e vou armando minha história e minhas poesias”, sintetiza. Mormasiento nasce do corpo e da escuta.
“Além de ser fronteiriço, vivi e trabalhei como educador nas periferias da fronteira – em bairros onde muitas vezes falta comida, mas sobram sonhos, músicas e palavras”, conta o autor. “Foi ali, entre as vozes das crianças, os cheiros das cozinhas e as batidas dos batuques, que aprendi o verdadeiro sentido da poesia: resistir, compartilhar e cuidar”. Os 70 poemas de Mormasiento foram escritos ao longo de muitos anos, entre viagens, encontros e despedidas.
Para o escritor, cada poema é um fragmento de tempo: “uma tentativa de nomear o que pulsa”. O “mormasiento” que dá nome ao livro é uma mistura de mormaço, cansaço e sentimento. “Este livro é, antes de tudo, um gesto de resistência, um modo de afirmar que a poesia também mora nos cantos esquecidos, nas línguas cruzadas, nas histórias que o vento conta”, resume Andrés Rivero.
Mormasiento é uma publicação independente, resultado de um percurso artístico construído de forma autônoma e colaborativa, com apoio da Incubadora Fronteira Criativa. Com uma linguagem crua, afetiva e profundamente enraizada no território, Mormasiento celebra o poder da palavra como ferramenta de afirmação e pertencimento.
Sobre o autor
Andrés Rivero (1980) é poeta, compositor e artista fronteiriço. Nascido em Minas de Corrales, Rivera (Uruguai), tem sua obra profundamente marcada pela oralidade e pelas heranças afro-indígenas transmitidas de geração em geração. Autodidata, atua desde 2003 em projetos comunitários voltados à valorização da identidade local e da língua portuñol, como o Coletivo Lingua Mae. Também é cantautor e explorador do universo sonoro da fronteira, criando canções e performances que revitalizam tradições culturais e reafirmam a força criativa desse território binacional.

Mormasiento
Andrés Rivero
92 p.
R$ 40
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