Edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio sobre fotos de acervo pessoal
Sempre gostei de ler e escrever, mas nunca imaginei que me tornaria escritora. A vida me envolveu de um jeito e, enquanto lia Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, me identifiquei a ponto de entender que os desafios e alegrias de uma maternidade atípica mereciam se transformar em livro.
Foi assim, numa sala de espera enquanto minha filha era atendida, que a ideia de Simplesmente Rara ganhou a força que precisava. Maria Carolina de Jesus mostrou na prática que o lugar de fala pode sensibilizar, além de permitir (e de certa forma transportar, mesmo que no imaginário), o leitor às situações e cenas relatadas. Eu já tinha um blog com textos, escritos naturalmente de forma instintiva até serem transformados em crônicas. Esse foi o impulso, pois a partir daí segui escrevendo.
Como Pedagoga e mãe conseguia compreender dois papéis: o da mãe e o das profissionais da área de Saúde e Educação que acompanham minha filha. Me parecia que a escrita poderia contribuir para união desses universos. A escrita fluiu. A publicação aconteceu. Logo no lançamento tive apoio de amigas e concedi algumas entrevistas. Como o livro também foi aliado a uma causa social — relacionada à inclusão e sensibilização — simbolicamente optei por reverter o lucro para a Associação 9p Brasil, em processo de constituição. De setembro a dezembro tive pouco tempo para respirar, mas estava muito feliz, pela primeira vez na vida senti e disse para mim mesma: “Eu nasci para isso”.
Janeiro, férias, tudo parou. Alguns dias, mesmo com sol intenso, para mim foram cinza. Tive imprevistos. Recebi nãos e alguns “volto a falar com você”, sem retorno. Também teve os dias que literalmente tudo deu errado. Mas a Literatura seguiu firme, como companheira. Entre a leitura de contemporâneos iniciantes (para uma iniciativa que propus no Instagram), sentindo na vivência o quanto é desafiador iniciar na escrita, também tenho minha lista de desejos para 2022. Nesta lista também estão presentes autores consagrados: Isabel Allende, Clarice Lispector, Jeferson Tenório e Eduardo Galeano.

Mesmo tendo me proposto a conhecer muitas obras que para mim são novas, preferi fazer uma pausa e encontrar na leitura de um livro que já havia lido, há cerca de oito anos, o abraço que estava precisando. Buscava a segurança do conhecido, mas com versão atualizada de meu próprio olhar. Deixei minha lista de lado e fui para a estante.
Não foi difícil escolher, eu sabia que o livro precisava ser leve, divertido e que também possibilitasse pensar em meus processos. Escolhi Comer, Rezar e Amar. Confesso que ele me prendeu de um jeito tão especial, todos os minutos de folga eu direcionava para seguir a leitura. Já nas primeiras páginas entendi que minha escolha fora acertada.
Me parece que a Literatura age assim mesmo em nossa vida, ora como colo de mãe, ora como o carinho de um filho. Ainda pode transportar para aquelas gargalhadas habituais em uma conversa entre amigos. Pode ser apenas lazer com gosto de passeio de domingo em família e também mais conceitual, possibilitando a ampliação de nosso repertório. Com ela podemos conhecer novas culturas, sem dúvidas as possibilidades são incontáveis. O mais interessante é que ela não precisa “ser isso” “ou aquilo”, ela deixa a porta aberta! Como experiência subjetiva, permite que cada leitor imprima seus próprios significados.
Em meu percurso enquanto escritora, a Literatura assumiu um papel importante. Posso considerar que Carolina Maria de Jesus abriu horizontes e outros autores contribuíram para a composição da obra. Queria escrever um livro fluído e leve e no processo uma leitura já concluída me inspirou: Papai é Pop , de Marcos Piangers. Queria tocar profundamente sentimentos, aprendi muito lendo Saramago. Extraordinário, de R. J. Palacio, fez com que olhasse além e apresentasse a face do preconceito de uma deficiência invisível no fenótipo — uma abordagem que dialoga com a motivação em torno dos textos que mais tarde comporiam o livro Simplesmente Rara. Por isso, é seguro afirmar que a minha experiência com a escrita nasce desse local de cuidado e compromisso com o texto e com o leitor. Ou seja, em minha vivência, a Literatura ocupa sempre dois lugares e se apresenta sempre como isso e aquilo.

*Greici Ferrari (Greicimara Vogt Ferrari) nasceu em 1983 em Ibirubá/RS, cresceu em Erechim/RS e desde 2010 reside em Bento Gonçalves/RS, onde atua como Pedagoga na Pró-reitoria de Ensino do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). Graduada em Pedagogia, Especialista em Orientação Educacional e Supervisão Escolar, Mestre em Educação, mãe da Manuela e uma das idealizadoras da Associação 9p Brasil. Em seus diferentes papéis insiste em ser inteira: e é assim que estabeleceu sua relação com a escrita. Simplesmente Rara é seu primeiro livro.

Simplesmente Rara
Greici Ferrari
200 p.
R$ 49
BesouroBox Edições
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