Romance de Manoel Madeira suscita reflexões sobre identidade e pertencimento
Edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio sobre foto de Marco Nedeff
Ramiro acorda e ninguém o reconhece. Ninguém sabe quem ele é. Nem os colegas da pensão onde mora, nem Maya, por quem alimenta uma paixão de longe. Agente administrativo da Biblioteca Pública do Estado, ele se lança na procura desesperada por alguém que o reconheça. Obsessivo em seus métodos e racionalizações, perturbado pelas lembranças que lhe atravessam e por angústias de cancelamento, Ramiro anseia encontrar algum sentido verossímil a essa estranha constatação — seu desaparecimento dos olhos dos outros. Expulso da pensão, ele erra numa Porto Alegre que arde em calores surreais, buscando companhias, tetos, olhos que lembrem dele. Inconsciente, busca no amor alguma resposta, ainda que vaga.
Em seu segundo romance, Os olhos dos outros, o psicanalista e escritor Manoel Madeira propõe reflexões sobre identidade, pertencimento e reconhecimento. Ele parte da ideia de que o sujeito se constitui a partir do olhar do outro. “Fui pensando na hipótese de desaparecimento diante dos outros dos outros, em como seria essa história de angústia. Esta seria a primeira camada; a segunda deriva dos conflitos sociais e da teoria social proposta pelo filósofo e sociólogo Axel Honneth, em que o nexo entre a experiência do reconhecimento e a construção identitária do sujeito é vital e se dá em três dimensões: direito, solidariedade e o amor”, explica Manoel.
O professor e escritor Luís Augusto Fischer observa na orelha do livro: “Manoel Madeira construiu aqui um narrativa singular: um relato que anseia por paz de espírito mas dá a ver a trajetória demoníaca de um indivíduo que perdeu coisas e pessoas com que havia construído sua identidade, do passado remoto, pai e mãe e infância inocente, ao presente imediato, na pensão degradante e no emprego desvalorizado. Perdeu e seguiu vivendo, nas ruas da mesma Porto Alegre bem conhecida, num supermercado igual a qualquer outro, junto a catadores de rua como aqueles que diariamente evitamos. Perdeu mas busca, com o desespero dos que ultrapassaram o limite, recuperar um fio, um suspiro, um lampejo, capaz de recolocá-lo num patamar mínimo de decência vital. Escrito num ritmo que combina ligeireza no miúdo e devastação no conjunto, Os olhos dos outros é um romance magnífico sobre nosso tempo.”
Os olhos dos outros será lançado no sábado, dia 17 de setembro, no Espaço Amélie (Vieira de Castro, 439 – Porto Alegre/RS).
Sobre o autor
Manoel Madeira é psicanalista e escritor. Graduado em psicologia (UFRGS), mestre em antropologia (EHESS). Foi professor da Université Paris-Diderot Sorbonne Cité, onde realizou mestrado e doutorado em psicanálise. Lecionou no Departamento de Psicanálise da UFRGS como professor adjunto. Autor do romance Ausentes (Diadorim, 2018). Organizador e coautor de Contos de Psicanálise (Diadorim, 2020), livro finalista do Prêmio AGES de Literatura. É colaborador do Jornal Boca de Rua e Membro da APPOA.

Os olhos dos outros
Manoel Madeira
Editora Libretos
204 p.
R$ 50
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