Psicodelia fragmentada

André Borba Arieta explora os limites das formas textuais com ‘Proibido mirar afuera’

Edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio sobre reprodução

Inspirado na iconoclastia boêmia de uma Porto Alegre que já foi punk e progressista, mas que ainda resiste nos artistas que a reinventam, o livro Proibido mirar afuera, de André Borba Arieta, mescla regionalismo freak, ficção científica tropicalista e “bula de remédio psicodélica”, em uma narrativa fragmentada em que frases quebradas formam cacos multiformes flutuantes. Na trama, personagens desorientados procuram um sentido para suas ações e um velho preso em uma ilha conta histórias para seu carcereiro.

O livro foi publicado pela editora Toma aí um poema e foi lançado em julho em Porto Alegre e agosto em Florianópolis. A arte de capa é da artista Biah Werther e do seu estúdio criativo.

Confira um trecho abaixo:

“Eu no escritório do meu avô, escolhendo livros pequenos e muito velhos, autores russos, eu, vô Arieta e o forte apache, tudo cor de rosa na foto envelhecida de 72. Minha vó estava vendendo a casa, cheguei pra buscar o que escolheria, últimos despojos da antiga abastança, fiquei com os móveis do escritório, mas sobretudo os livros. Todos escolhiam coisas na casa: objetos, talheres, sofás e telhas, o cara do frete me esperava estacionado em frente. Última vez que fui a Barra do Ribeiro. A Vó depois trocou estas leituras por livros iguais com nomes de mulheres. ‘Recordações da casa dos mortos’: encadernação de gibi e capa com arte de fotonovela.” (p. 38)

Sobre o autor
Músico, cineasta e cientista onírico, André Borba Arieta também é professor de cinema e calouro na fábrica de palavras e papel. Gosta de Syd Barret e Bete Carvalho e se desloca no espaço/tempo com os filmes de Antonioni.