A formação de uma identidade

Narrado por múltiplas vozes, ‘Mikaia’ passeia por temas como a construção da memória, o corpo, a dança e a violência contra a mulher

Edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio sobre reprodução

Já está disponível no site da editora Record Mikaia, livro de estreia de Taiane Santi Martins e vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2022 na categoria Romance. Pela primeira vez, um livro vencedor do Prêmio Sesc foi lançado durante a Festa Literária Internacional de Paraty. A obra narra a história de três gerações de mulheres que viveram e fugiram da guerra civil moçambicana e joga com as diferentes maneiras de se lidar com um passado traumático. Enquanto Mikaia — uma dançarina de ballet que sofre uma amnésia repentina — quer lembrar, sua irmã, Simi, quer esquecer e sua avó, Shaira, decide silenciar. O desenrolar da trama se dá no embate entre as tentativas da protagonista em recuperar um passado que lhe foi roubado, os retalhos de memória que lhe voltam confusos e a resistência de Simi em renunciar a uma infância inventada e cultivada por vinte anos às custas do esquecimento.

O livro transita por temas como a guerra e a identidade cultural, além de discutir o olhar do Brasil sobre a cultura moçambicana, já que Mikaia vive o dilema de se sentir brasileira ao mesmo tempo que precisa reaprender o que significa ser moçambicana. Nesse sentido, assim como a personagem central transita entre identidades e pertencimentos, deslocando-se entre os oceanos Índico e Atlântico, a construção de linguagem do romance também transita entre as variantes do português brasileiro e moçambicano — e sua língua materna, o emakhuwa, torna-se elemento central nesse movimento de resgate.

Sobre a autora
Taiane Santi Martins nasceu em Vacaria, RS, em 1988. É doutora em Escrita Criativa pela PUCRS, formada em História pela FAED/UDESC e em Letras pela UFSC. Tem poemas e contos em coletâneas e revistas. É editora da Travessa em Três Tempos, revista literária que fundou em 2010. Mikaia é seu primeiro romance e foi parcialmente escrito na Ilha de Moçambique, onde residiu.