Dialogando com o horror e a ficção histórica, ‘A Noite do Cordeiro’ tem lançamento em 6 de agosto no Café Mal Assombrado em Porto Alegre

Edição: Vitor Diel sobre texto da assessoria
Arte: Giovani Urio sobre reprodução

A partir de uma das mais sombrias passagens da nossa História — a presença da Inquisição portuguesa e o início da escravidão africana na Bahia — A Noite do Cordeiro, novo romance do escritor gaúcho Daniel Gruber, combina elementos da literatura gótica e das narrativas de horror rural para retratar o pensamento fundamentalista e autoritário que formou o caráter colonialista de um país de perseguições e opressões. Ao mesmo tempo histórico e atual, realista e insólito, o livro retrata um pesadelo sinistro e perverso de uma noite que já dura mais de cinco séculos. 

Na trama, Vicente de Alcântara é um jesuíta humanista e recluso que só terá paz quando desvendar o mistério de uma menina que volta enfeitiçada da floresta. Por sua vez, Awa Ndongo é uma curandeira angolana escravizada que não descansará até recuperar sua liberdade. Em um sufocante povoado no Recôncavo de 1620, os destinos de Vicente e Awa se cruzarão com o de um comissário da Inquisição portuguesa obcecado por bruxas e diabos.

Publicado pela editora gaúcha O Grifo, o livro foi bem-sucedido em uma campanha de financiamento coletivo no ano passado e será lançado pelo autor em Porto Alegre no próximo dia 6 de agosto, no Café Mal Assombrado POA (R. Coronel Fernando Machado, 513, Centro Histórico), a partir das 16h, com mediação de Cláudio Zanini, professor da UFRGS especialista em literatura gótica.

Um passado perverso e esquecido

Resultado de seu doutorado em Escrita Criativa pela PUCRS, orientado pelo escritor e professor Luiz Antonio de Assis Brasil, A Noite do Cordeiro é a resposta, em forma de ficção, de uma longa pesquisa sobre a perseguição a bruxas e feiticeiras durante o período de colonização do Brasil. “Trata-se de um episódio pouco conhecido, que não estudamos na escola, mas explica muitos comportamentos culturais em nosso país”, ressalta Gruber, “como a intolerância religiosa, escravidão e preconceito aos conhecimentos populares”.

No romance, temas como caça às bruxas, fanatismo e delírio coletivo aparecem na forma de mistério e horror, a fim de jogar luz e sombras sobre temas atuais como feminicídio, racismo, autoritarismo e negacionismo. “Descobrirmos um retrato de época pintado com perspicácia e pluralidade”, escreve Taiane Santi Martins, autora de Mikaia e vencedora do Prêmio Sesc de Literatura, no texto de orelha do livro: “sem nunca perdermos de vista o quanto disso tudo ainda ressoa no presente.”

Sobre o autor
Daniel Gruber é escritor, editor e professor, natural de Novo Hamburgo (RS). Publicou quatro livros, entre contos e romances, todos pela sua editora, O Grifo. É autor de O Jardim das Hespérides (20170), finalista do prêmio Minuano, Animais diários (2019), finalista do AGES, A floresta (2021), finalista do Odisseia de Literatura Fantástica. É também um dos organizadores de O Novo Horror (2021), vencedor no mesmo prêmio na categoria projeto gráfico. A Noite do Cordeiro foi escrito durante seu doutorado em escrita criativa pela PUCRS.