não era uma cidade

Poeta Rodrigo Luiz Pakulski Vianna retorna à literatura com segundo livro cujos poemas ganham um novo contorno após as enchentes de 2024; autor integrou comitiva de escritores brasileiros em festival na China no ano passado

Edição: Vitor Diel
Foto: Divulgação

Em não era uma cidade, o poeta, professor e tradutor Rodrigo Luiz P. Vianna investiga as brechas do cotidiano urbano com uma lírica atenta aos silêncios, às lembranças soterradas pela pressa e aos desvios que a paisagem impõe a quem ousa observá-la. Com uma poesia que oscila entre o concreto da metrópole e a suspensão onírica dos intervalos, o livro nos convida a caminhar — como quem busca, como quem pressente.

Seus versos evocam a figura do flâneur moderno, que refaz espaços com o olhar, entre memórias e inquietações. A cidade aqui não se apresenta apenas como cenário, mas como matéria em constante deslocamento: “é a pele que nos separa do indivisível”, escreve Rodrigo, convocando o leitor a mergulhar nos vãos e nas rachaduras do presente.

Fruto de um processo iniciado em 2019, com poemas desenvolvidos ao longo do CLIPE (Curso Livre de Preparação de Escritores), não era uma cidade é também atravessado pela experiência recente das enchentes que devastaram Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul em 2024. Embora anterior à tragédia, o livro assume, em sua publicação, um novo contorno: o da urgência em rever nossas relações com o espaço, com a memória e com a própria ideia de humanidade.

Em 2024, foi um dos poetas convidados para o I International Youth Poetry Festival in China, organizado pela Associação Chinesa de Escritores, em 2024. O evento contou com a presença de autores de países que formam o BRICS, acrônimo da parceria entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, hoje com outras nações.

O autor lança não era uma cidade em Porto Alegre, no dia 21 de junho, das 15h às 18h, no Terezas Café (Rua Giordano Bruno, 318 – Porto Alegre/RS).

Confira abaixo alguns poemas que integram a obra:

nunca esteve tão tarde
e o sol ainda está no centro dessa elipse
na história de toda humanidade
nunca alguém chegou aqui
a não ser nós
este agora é tão tarde quanto
jamais será
nenhum outro dia avançou
até esta hora
nenhuma outra noite
apenas nós


xxxx

uma palavra se
perde no vão entre o trem
e a plataforma
uma palavra menor
que um molho de chaves menos
densa que molho de tomate
mais física que aquele olhar
que ganha velocidade

xxxx

em um dia como hoje
que é hoje
aconteceram coisas que não estarão neste poema
e que já não estão visto
que na medida em que
você lê estas linhas eu não as escrevi
há fatos e o que eu contaria
deles mas o que
importa é que já passaram
e que deram
motivo para este poema

Sobre o autor
Rodrigo Luiz Pakulski Vianna (Porto Alegre, 1981) é poeta, jornalista e professor, com formação em tradução literária. Reside em São Paulo, cidade em que nasceu Alice. Criador e produtor do podcast poesia pros ouvidos, tem poemas publicados no Jornal Rascunho e em revistas impressas e digitais; e traduzidos para o chinês. Participou do International Youth Poetry Festival (2024) na China, organizado pela Associação Chinesa de Escritores. Integrou a turma de 2020 do CLIPE – Curso Livre de Preparação de Escritores da Casa das Rosas. textos para lembrar de ir à praia (Reformatório/Patuá, 2020), seu livro de estreia, foi o vencedor do Prêmio Maraã de Poesia (2019) e do Prêmio Literário Biblioteca Nacional (2021). não era uma cidade é seu segundo livro publicado.

não era uma cidade
Rodrigo Luiz Pakulski Vianna
88 p.
R$ 55
Laranja Original
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