“Os jovens de 2022 vivem os resultados das políticas adotadas nos últimos 40 anos em todo o mundo”
Edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio sobre reprodução
Todas as gerações mais recentes têm encontrado, ao longo das décadas, um espelho em produções audiovisuais como filmes ou séries. A geração de jovens nascidos no início dos anos 2000, identificada como Geração Z, tem sido representada por uma série chamada Euphoria. Entre os temas levantados pela produção, estão a sexualidade fluída, a popularização das drogas sintéticas, o individualismo e a desesperança da classe trabalhadora — temas que já habitavam produções da geração anterior, como Trainspotting para os Millennials, mas que agora têm alguns traços aprofundados, como o niilismo e a ironia.
A Geração Z tem motivos de sobra para alimentar um profundo sentimento de desilusão. Em sua infância, atravessou a maior crise do capitalismo desde a década de 1920 — a crise financeira de 2008 —, passou a adolescência por uma pandemia global, viu a ascensão da extrema direita e o agravamento da crise climática, e chega às portas da idade adulta convivendo com endividamento, aumento da desigualdade, precarização do trabalho, falta de perspectiva e avanço do neoliberalismo.

Os jovens de 2022 vivem os resultados das políticas adotadas nos últimos 40 anos em todo o mundo. Para eles, o capitalismo se revela como um sistema de desilusão porque cada vez mais entrega menos do que promete. Daí nascem os adoecimentos psíquicos, que podem ser identificados como subprodutos do Capitalismo Tardio — que não sinaliza o fim desse sistema, mas um estágio em que “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”.
Trazer este assunto aqui é importante porque nos ajuda a perceber o momento em que vivemos e a refletir sobre o “sentimento do mundo” que queremos delegar para o futuro. Quais são as histórias que queremos contar e de que forma elas contribuem com a construção de um imaginário coletivo? Precisamos compreender e conversar com a geração Euphoria para que quando ela tenha 40 anos, a idade dos editores desta plataforma, esteja suficientemente consciente e organizada para deixar para seus adolescentes uma perspectiva de possibilidades. Quanto a nós, que talvez sejamos um caso perdido, cabe refletir: o que estamos fazendo para construir uma nova perspectiva para as gerações futuras?
Vitor Diel, jornalista e editor de Literatura RS