“Eu era uma adolescente quando meu pai, toda vez que passávamos em frente a uma residência, localizada no bairro Parque dos Búzios, em Gravataí, dizia: — Aqui mora um escritor”
Edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio
Eu era uma adolescente quando meu pai, toda vez que passávamos em frente a uma residência, localizada no bairro Parque dos Búzios, em Gravataí, dizia:
— Aqui mora um escritor.
A informação acionava meu processo criativo, eu olhava aquela residência enorme, cercada de muros altos e pensava no colorido que deveria habitar em seu interior.
Posteriormente, soube que tal escritor presidia uma entidade, composta por escritores e escritoras. Eu já era professora e imaginava a delícia que deveria ser fazer parte de tudo aquilo. Acompanhava em jornais locais visitas feitas pela organização em escolas, Feiras de Livros e movimentos culturais de extrema relevância.

Comecei a frequentar os Saraus Literários promovidos por esse grupo, e me tornei escritora também. Descobri que todo o trabalho desenvolvido era voluntário, acompanhei a dinâmica de perto, percebi que estava presenciando um amor incondicional pela literatura, uma luta incansável pelas novas gerações e para que a cidade também conhecesse seus escritores.
Hoje sou presidente deste Clube Literário, fato que muito me orgulha. Lembro da adolescente impressionada com o tom de respeito com que o pai anunciava a existência de um escritor no bairro e entendo todo o sentimento de admiração que transparecia em sua fala.
Atualmente temos muitos projetos em andamento: Clube Literário Jovem; Sarau Solidário e Caravana Cultural. Porém, o que desejo destacar é a trajetória da entidade, sempre comprometida com a luta árdua e incansável em prol das Artes. Não me atreveria a dizer alguns nomes, pois outros tantos seriam esquecidos e isto seria imperdoável. Registro aqui, meu mais profundo respeito por cada integrante que ajudou a construir esta belíssima história, que em junho completa 25 anos.
Gratidão por existirem assim tão brilhantemente!
Clube literário de Gravataí, presente!

Angela Maria Xavier Freitas é natural de Porto Alegre/RS. Escritora, pesquisadora, poeta e professora, possui descendência africana e também ascendência indígena. Graduada em Letras com Especialização em História e Cultura Afro-brasileira. Também atua como diretora de teatro estudantil, tendo recebido em 2018, em um Festival Estudantil no Rio Grande do Sul, o troféu Desconstrução da História Oficial com a esquete Lanceiros Negros. Autora dos contos infantis O Lanceirinho Negro, O Lanceirinho Negro/Herança de Porongos e Jerá Poty e também da obra Tornando-se, onde apresenta suas escrevivências através da poesia. Suas obras abordam temáticas ligadas à representatividade e combate ao racismo. Teve sua obra O Lanceirinho Negro contemplada pelo edital da Fundação Marcopolo em 2021, com recursos da lei Aldir Blanc, distribuindo a obra em diversas escolas da região metropolitana de Porto Alegre. É integrante dos coletivos professoras pretas e Educação antirracista do Rio Grande do Sul. Atualmente ocupa o cargo de presidente Clube Literário de Gravataí. É integrante do Coletivo de Escritores Negros e Acadêmica imortal da Academia de Letras do Brasil- RS.
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