Foto: Douglas Freitas
Texto: Vitor Diel
A abertura da 12ª FestiPoa Literária vai ressoar por muito tempo nas mentes e corações da plateia que lotou o Salão de Atos da UFRGS na noite de segunda-feira, 29 de abril. Duas das mais potentes vozes do feminismo negro brasileiro, as escritoras e filósofas Djamila Ribeiro e Sueli Carneiro, homenageada desta edição, ocuparam o palco do teatro com seus relatos carregados de verdade e sentimento em conversa conduzida pela jornalista, poeta e colunista de Literatura RS Fernanda Bastos.

A desromantização das relações raciais e a desmitificação da democracia racial brasileira foram algumas das reflexões levantadas pelas convidadas, a quem a plateia dedicou uma escuta atenta e repetidas ondas de ovações calorosas. O debate intergeracional, logo no início, foi um dos pontos mais emocionantes da noite, com Sueli lamentando um sentimento de fracasso por parte de sua geração pelo avanço ultraconservador sobre as pautas antirracistas nos últimos anos. “Este não era o país que minha geração queria entregar para vocês”, revelou, antes de ser contestada pela colega de debate Djamila: “Este país, por mais de três séculos, nos tratou como mercadoria. O que falhou foi o sistema racista. A falha começou na colonização e na violência colonial”, apontou.

A homenageada, que é uma das fundadoras do Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização reconhecida internacionalmente pelos seus mais de 30 anos de trabalho sobre as particularidades sociais, políticas e de saúde da população negra feminina brasileira, lembrou que a perversidade da violência racista é um sintoma aprofundado pelo momento que vive a sociedade brasileira: “As cotas tiraram os racistas do armário e também fez emergir toda a violência inerente ao racismo”, sustentou.

Segundo Djamila, que é um dos maiores sucessos editoriais do Brasil em anos recentes (“num cenário de crise, meu livro vendeu 50 mil exemplares”, declarou), Sueli Carneiro representa um pensamento original produzido no Brasil que ainda não tem o reconhecimento merecido. “Uma pesquisa da UFRJ indicou que 90% dos escritores que publicam no Brasil são brancos. Um pensamento político que não questiona a estrutura racial não é um pensamento político”, pontuou.

Após o evento, as autoras autografaram suas obras. A 12ª FestiPoa Literária segue até o dia 6 de maio com atividades gratuitas. Confira a programação em nosso especial.

Foi realmente incrível.
parabéns aos envolvidos.
Literatura;Rs mandou muito bem.
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