Poemas de humanidade e cotidiano com Lucas Barroso

Texto e edição: Vitor Diel
Arte: Giovani Urio

Com as lentes corretas, as coisas pequenas revelam-se imensas. Por pequenas, aqui, entendam-se as coisas triviais e banais, aquelas nas quais esbarramos cotidianamente. O movimento de engrandecê-las é um dos méritos dos poemas de Lucas Barroso, jornalista e escritor que lança seu primeiro livro de poesia, O tempo já não importa, pela editora Artes & Ecos.

Com versos extraídos de cenas comuns, Barroso despeja um olhar carregado de múltiplos significados sobre pessoas, objetos, o tempo, o tédio, o amor. O autor abre portas de diálogos com leitores que também buscam superar o enfado da vida ao adubar seus sentidos com a singeleza do mundo.

O afiador de facas

Domingo é dia de ouvir o apito do afiador de facas, arrastando sua bicicleta pelas ruas vazias.

Uma senhora apareceu para afiar o alicate de cutícula.

Nunca tinha visto ele atender alguém.

Antes, em outros domingos, tinha o jornaleiro e uns carros de som que vendiam sorvete caseiro, sacolé, produtos de limpeza, ovos, frutas, verduras e legumes.

Mas esses não se ouvem mais.

Só restou o afiador de facas.

Com o mesmo apito.

Parece um piado.

E é até meio triste.

Em um sentido, o poeta parece evocar um famoso verso drummondiano, “As coisas. Que tristes são as coisas consideradas sem ênfase”. Barroso revela-se um autor habilidoso ao enfatizar e, assim, valorizar as coisas. Sua visão de mundo e de texto parecem positivamente contaminadas pelo ofício de jornalista: “Talvez essa variedade seja reflexo de sua formação jornalística, profissão na qual é preciso entender um pouco de tudo. Mas é bom advertir: nenhuma faculdade ou profissão substitui a sensibilidade capaz de apanhar a poesia no mínimo do cotidiano e de pendurar dúvidas diante de nossas certezas”, escreve Luís Dill na apresentação.

O tempo já não importa
Poesia
Lucas Barroso
70 p.
14 x 21 cm
978-85-93459-23-8
R$ 35
Artes & Ecos

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