Edição: Vitor Diel com texto da assessoria
Arte: Giovani Urio
Segundo Carlos Nejar, o novo livro do poeta Delalves Costa, intitulado Ininterruptos, choremos ruas dentro dos ossos, “caracteriza-se por um jogo de contraposições entre o poético e o prosaico, o uso de vocábulos que normalmente pesam e no seu caso, consegue tornar leves e voantes no poema. Como ‘falésia’, ‘fórceps’, ‘homemporâneo’ ou ‘ethos’, mas pelo mover mágico, catalizador, incrivelmente funcionam no seu texto, que é à queima-roupa entre a lógica e o caos, ou o caos que se funde a uma lógica inaugural das coisas, sob ‘o sapato dos dias’. É permeado pela sombra concretista, com a diferença fundamental: as palavras estão vivas no espaço branco, respirantes como cacto no deserto. Por se casarem estranhamente e com ardor de pênseis metáforas”.
Já Alexandra Vieira de Almeida, Escritora e Doutora em Literatura Comparada pela UERJ, diz: “Num processo de desconstrução, o texto que fecha o livro é uma crítica irônica e cheia de sarcasmo ao sistema dominante e ‘retalhado de costuras’, que nos separa e não nos redime, que nos aprisiona e mata e não nos vivifica e não nos sopra os acordes da beleza. Sua nova obra poética termina com um convite a pensar, na tentativa de se desmantelar o ‘modelo remendado’, o ‘modelo hipócrita’.(…) O novo livro de poemas de Delalves Costa remodela, pela língua e pela estética, unindo forma e conteúdo, os vários saberes e temáticas, que vão do religioso ao social, do poético ao existencial, multifacetando o real em suas diversas camadas polissêmicas, reorganizando o caos do mundo pela singularidade de sua poesia inaugural”.
Abaixo, dois poemas retirados do livro:
1.
não posso acreditar
estar esta poesia de sentença
haverá quem a leia
apenas para elevá-la à forca
haverá quem a leia
por morar em praça pública
onde é o espetáculo
mal sabia que parir
de útero invertido causasse
tanta dor que do pé
de flor só brotasse espinhos
atemporal urticária
a semente extrai nasciment-
os germes do tempo
haverá quem a leia
para sepultá-la nas falésias
haverá quem a leia
e no raso de si a desperdice
mas o laudo te dirá:
de parto fórceps, tempo que
não nos viu nascer
14.
na ossada reconheceu a mãe
que nunca saindo de casa
esvaia-se há meses na pedra
na ossada reconheceu o pai
que a enxurrada esculpiu
no fatídico dia de sol a pino
na ossada reconheceu a irmã
que sofria dupla tragédia
seminua ao gozo do monstro
na ossada reconheceu-se
na lápide das estatísticas
o laudo: asfixia-necropolítica
Sobre o autor
Natural de Osório, Delalves Costa é poeta, escritor e professor. Entre suas publicações recentes, estão: extemporâneo (Coralina, 2019), Apanhador de estrelas (Class, 2020), Midiaserável (Patuá, 2020), de poesia; e Óculos de princesa (Papo Abissal, 2020, infantil), de prosa. Tem publicado poesias em coletâneas impressas e em diversas plataformas digitais lítero-culturais em Brasil (Literatura RS, Revista 7Faces, Revista Sepé, Revista Gueto, Quatetê, Escrita Droide, Mallarmargens, Literatura & fechadura, Ruído Manifesto, Bibliofiliacotidiana, Pé de Moleque Livros), Portugal (Athena, InComunidade) e Moçambique (Mbenga). Academicamente, tem participação em livros com capítulos e/ou artigos científicos, os quais também publicados em revistas. Esporadicamente, escreve ensaios para a revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa/Literatura. Além de destacado pesquisador, é palestrante nas áreas de literatura (direito à literatura e à leitura, literatura contemporânea, literatura locus-regional, diálogos entre literatura, história e culturas locus-regionais) e de educação (diretos humanos e fundamentais e decolonialidade, currículo intercultural, protagonismos educativos). Mestre em Educação (Uergs), professor licenciado em Letras (Unicnec), atuando profissionalmente na rede pública de ensino. É sócio-fundador e membro honorário da Academia dos Escritores do Litoral Norte (AELN/RS) e sócio da Associação Gaúcha de Escritores (AGES).

Ininterruptos, choremos ruas dentro dos ossos
Delalves Costa
Poesia
74 p.
14 x 21cm
Bestiário/Class
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